A Coca-Cola informou que vai trocar o xarope de milho por açúcar da cana na fórmula do refrigerante vendido nos Estados Unidos. A alteração foi anunciada nessa terça-feira (22/7), após pressão do presidente Donald Trump, que defende maior uso de produtos da agricultura americana.
A mudança reacendeu o debate sobre os efeitos desses ingredientes na saúde. Afinal de contas, há alguma diferença real entre eles? Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, do ponto de vista nutricional, a troca não representa um ganho significativo para o consumidor.
Ainda que existam algumas diferenças na composição, tanto o xarope de milho quanto o açúcar da cana são formas de açúcar simples, com alto teor calórico e pouco ou nenhum valor nutricional.
“O xarope de milho, especialmente o de alta frutose (HFCS), tende a ser mais processado e contém uma proporção maior de frutose livre, o que pode aumentar os riscos de resistência à insulina, acúmulo de gordura abdominal e doenças cardíacas”, explica o nutrólogo Felipe Gazoni, que atua em São Paulo.
Apesar disso, o médico ressalta que os dois tipos de açúcar, quando consumidos em excesso, têm impacto negativo semelhante, contribuindo para obesidade, diabetes tipo 2, distúrbios metabólicos e outros problemas de saúde.
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Efeitos da frutose variam conforme a fonte
Um ponto importante, segundo os especialistas, é que o problema não está na frutose em si, mas na forma como ela é consumida. “A frutose das frutas não é o problema. O risco está no excesso de frutose ultraprocessada, como a usada em refrigerantes e doces industrializados”, reforça Gazoni.
A frutose presente nas frutas vem acompanhada de fibras, vitaminas e antioxidantes, que ajudam na digestão e no metabolismo. Já a do xarope de milho é concentrada e isolada, o que pode sobrecarregar o fígado e favorecer o acúmulo de gordura, como explica o nutricionista esportivo Matheus Silva, também de São Paulo.
“A forma como a frutose é entregue ao corpo faz toda a diferença. No caso do xarope de milho, ela vem sozinha, sem os ‘freios’ naturais que a fruta oferece, o que pode aumentar os danos metabólicos”, afirma Matheus.
Vai mudar o sabor?
Com a troca de ingredientes, o sabor da Coca-Cola também pode sofrer alterações, ainda que sutis. Segundo Matheus, mudanças na fórmula do refrigerante costumam passar por diversos testes até manter o padrão de sabor.
“Mesmo assim, consumidores percebem diferenças. No Brasil, por exemplo, onde a bebida já é adoçada com açúcar da cana, o gosto é levemente distinto da versão americana”, explica.
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Continua sendo um refrigerante
Apesar da troca, os nutricionistas ressaltam que o consumo de refrigerantes segue sendo um risco à saúde, independentemente do tipo de açúcar utilizado.
“Parece uma mudança, mas o risco continua o mesmo. Refrigerantes são bebidas com alto teor de açúcar livre e praticamente sem nutrientes. A verdadeira troca saudável é menos refrigerante e mais água”, orienta Gazoni.
A nutricionista Letícia Lenzi Claudino, que atende em Florianópolis, concorda. “Refrigerantes não oferecem benefícios ao corpo em nenhum aspecto. Mesmo com alterações na composição, continuam carregando uma combinação de açúcar, sódio e aditivos artificiais”, finaliza.
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