Comerias? Estudo aponta barreiras ao uso de insetos como alimento

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A produção de carne tem um grande peso ambiental e, por isso, alternativas alimentares têm ganhado espaço em debates sobre sustentabilidade. Em algumas culturas, o consumo de insetos já faz parte da tradição, e produtos com grilos ou larvas vem sendo testados como fontes de proteína.

Mas um novo estudo publicado na revista npj Sustainable Agriculture na última segunda-feira (23/6) indica que alimentos à base de insetos têm poucas chances de substituir a carne em larga escala.

A principal barreira não é tecnológica, mas cultural. A maioria dos consumidores ainda rejeita a ideia de comer insetos, mesmo quando eles são moídos ou misturados a outros ingredientes. Além disso, esses produtos tendem a ser mais caros, menos saborosos e menos acessíveis que os substitutos vegetais, que já estão consolidados no mercado.

Repulsa, preço e falta de tradição

A pesquisa, feita por cientistas dos Estados Unidos e da França, analisou dezenas de estudos recentes e concluiu que o nojo e o estranhamento ainda são os maiores entraves ao consumo. Em países ocidentais, menos de um terço das pessoas se diz disposta a experimentar alimentos com insetos, como salsichas ou barras proteicas.

“Não basta ter um bom argumento ambiental. Se as pessoas não consomem, o impacto é nulo”, afirmam os autores do estudo. Eles explicam que a repulsa é reforçada pela falta de familiaridade, por preocupações com segurança alimentar e pela ausência de um contexto culinário que ajude na aceitação, ao contrário do que aconteceu com alimentos como o sushi, que se espalhou pelo mundo junto com a gastronomia japonesa.

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Outro obstáculo é o custo. Atualmente, os produtos com insetos são pouco competitivos, tanto em preço quanto em sabor e conveniência.

Além disso, muitos deles não substituem diretamente a carne. A maior parte do mercado é voltada para snacks e produtos como massas ou barrinhas energéticas, que concorrem com itens vegetais, e não com bifes ou hambúrgueres.

Pouco investimento no setor

Mesmo entre os investidores, o entusiasmo é limitado. Em 2022, menos de 1% do dinheiro injetado na indústria de insetos foi destinado ao desenvolvimento de alimentos para consumo humano. O foco segue voltado à produção de ração animal, onde os insetos têm mais aceitação e aplicação prática.

Para os autores, isso mostra que o discurso de que os insetos vão revolucionar a alimentação humana pode ser mais marketing do que realidade — pelo menos por enquanto.

Alternativas vegetais ainda lideram

O estudo destaca que, embora os insetos tenham impacto ambiental menor que a produção de carne tradicional, eles ainda perdem para os alimentos de origem vegetal, que são mais acessíveis, aceitos e sustentáveis.

Produtos plant-based — como hambúrgueres e nuggets feitos de soja ou ervilha — já ocupam espaço nas prateleiras e têm aceitação de até 90% entre consumidores que buscam reduzir o consumo de carne.

Com isso, os pesquisadores alertam que insistir em insetos como principal alternativa pode desviar atenção e recursos de opções mais viáveis. “Insetos podem ter seu lugar, mas não devem ser vistos como solução mágica para os problemas ambientais da carne”, concluem.

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