Adotar uma alimentação à base de vegetais costuma ser associado a benefícios para a saúde do coração. Um novo estudo, porém, indica que essa relação depende do tipo de alimento que compõe a dieta.
Segundo os pesquisadores, nem todo padrão alimentar vegetal oferece proteção cardiovascular e, em alguns casos, pode até aumentar o risco de doenças do coração.
O trabalho, publicado no The Lancet Regional Health em 6 de outubro, foi conduzido por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da França, em parceria com o Inserm, a Universidade Sorbonne Paris Nord e o Conservatório Nacional de Artes e Ofícios (Cnam).
Em vez de avaliar apenas se os alimentos eram de origem vegetal ou animal, a equipe analisou também a qualidade nutricional e o nível de processamento industrial de cada item consumido.
A proposta foi avançar além da ideia de que basta substituir alimentos de origem animal por vegetais. Para os autores, o impacto da dieta na saúde cardiovascular está diretamente ligado à composição dos alimentos, como teor de gorduras, açúcares, vitaminas e minerais, além da forma como esses produtos chegam à mesa.
Como o estudo analisou a alimentação dos participantes
A pesquisa avaliou dados de 63.835 adultos acompanhados por, em média, 9,1 anos, com parte dos participantes monitorada por até 15 anos. As informações sobre alimentação foram obtidas por meio de questionários online, nos quais os voluntários registraram, em detalhes, tudo o que comeram e beberam ao longo de pelo menos três dias.
Com base nesses registros, os pesquisadores classificaram as dietas de acordo com a proporção de alimentos de origem vegetal e animal, levando em conta também a qualidade nutricional e o grau de processamento industrial. Essa análise mais detalhada permitiu observar diferenças importantes dentro dos próprios padrões alimentares considerados vegetais.
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Os resultados mostraram que pessoas que consumiam mais alimentos vegetais de alta qualidade nutricional, com baixo teor de gordura, açúcar e sal, e pouco processamento industrial apresentavam um risco cerca de 40% menor de desenvolver doenças cardiovasculares. Esse grupo incluía principalmente alimentos frescos ou minimamente processados.
Quando alimentos vegetais não reduzem o risco cardiovascular
O cenário foi diferente entre os participantes em que a alimentação incluía grandes quantidades de alimentos vegetais ultraprocessados. Mesmo quando esses produtos apresentavam uma composição nutricional aparentemente melhor, como pães integrais industrializados, sopas prontas, massas preparadas ou saladas industrializadas com molho, não houve redução do risco cardiovascular em comparação com dietas que continham mais alimentos de origem animal.
O risco mais elevado apareceu entre pessoas que tinham uma alimentação dominada por alimentos vegetais de baixo valor nutricional e altamente processados. Faziam parte desse grupo itens como batatas fritas, sucos adoçados com extratos vegetais, cereais açucarados, refrigerantes, doces e biscoitos salgados. Nesses casos, o risco de doenças cardiovasculares foi cerca de 40% maior em comparação com quem priorizava alimentos vegetais mais nutritivos e pouco processados.
Para os pesquisadores, os dados reforçam que a simples exclusão de produtos de origem animal não garante uma alimentação saudável. O nível de processamento e a qualidade dos ingredientes desempenham um papel central na relação entre dieta e a saúde do coração.
Os autores destacam que os achados estão alinhados com recomendações de saúde pública que priorizam o consumo de alimentos vegetais nutritivos e minimamente processados, como frutas e verduras frescas, congeladas ou enlatadas sem adição de gorduras, sal, açúcar ou aditivos.