Estudo mostra potencial de fruta do Cerrado contra o câncer de bexiga

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Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, descobriram que compostos presentes na lobeira — fruta típica do Cerrado preferida pelo lobo-guará — podem eliminar células de câncer de bexiga em testes com camundongos. O estudo aponta que, além de reduzir o tumor, o extrato da fruta não afetou células saudáveis nem causou efeitos colaterais.

Segundo o oncologista Daniel Girardi, especialista em tumores geniturinários do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, o achado representa um avanço promissor.

“É a primeira análise mostrando que substâncias extraídas da lobeira foram capazes de ter um efeito positivo na eliminação de células tumorais. Mas ainda não há garantias de que esse efeito vá se repetir em humanos”, explica.

Ele lembra que o câncer de bexiga costuma ser agressivo e diagnosticado tardiamente, principalmente em idosos e fumantes. Por isso, novas abordagens terapêuticas são bem-vindas, ainda que em estágio inicial.

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Como identificar o câncer de bexiga

  • O câncer de bexiga é um tumor maligno que se desenvolve nas células da bexiga, um órgão muscular localizado na parte inferior do abdômen.
  • O tabagismo é um dos principais fatores de risco, além de exposição a certas substâncias químicas e irritação crônica da bexiga.
  • Sangue na urina (hematúria) é o sintoma mais comum, mas também podem ocorrer dor ao urinar, aumento da frequência urinária e urgência urinária.
  • O câncer de bexiga tem alta taxa de recidiva, especialmente os tumores superficiais, por isso o acompanhamento médico regular é essencial após o tratamento.

Do ponto de vista nutricional, a lobeira (Solanum lycocarpum) é rica em flavonoides, alcaloides como a solanina, compostos fenólicos e fibras solúveis, ensina o nutricionista Fernando Castro. Esses compostos têm ação antioxidante, anti-inflamatória e até hipoglicemiante.

No entanto, ele alerta que o consumo da fruta in natura não garante os mesmos efeitos obtidos em laboratório. “Além da baixa biodisponibilidade, o consumo sem preparo adequado pode ser tóxico”, afirma.

A pesquisa reacende o debate sobre o uso de substâncias naturais como aliadas em tratamentos oncológicos. Para o nutricionista, é possível que, no futuro, compostos como os da lobeira integrem dietas personalizadas para pacientes com câncer, desde que haja comprovação científica e controle de segurança. Ele também cita outros frutos do Cerrado com propriedades medicinais, como pequi, jatobá e araticum.

Fruta-do-lobo testada in vitro e in vivo

“Células de câncer de bexiga foram instaladas dentro da bexiga do animal após ser feita uma lesão epitelial por etanol no órgão. Essas células crescem formando o tumor, que depois foi tratado com a formulação. Esse modelo nos permite avaliar a eficácia e segurança in vivo”, conta a professora Priscyla Gaspari, uma das autoras do estudo, em entrevista ao Jornal da USP.

O teste também foi feito em células de câncer de bexiga cultivadas em uma superfície plana, em laboratório, para verificar como a substância agiria antes de testá-la nos ratinhos.

3 imagensA fruta-do-lobo, cujo nome científico é Solanum lycocarpum, é um arbusto ou pequena árvore que pode atingir até 5 metros de alturaO lobo-guará se alimenta da lobeira, ajudando na dispersão de suas sementesFechar modal.1 de 3

A lobeira, também conhecida como fruta-do-lobo, é uma planta nativa do Cerrado brasileiro

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A fruta-do-lobo, cujo nome científico é Solanum lycocarpum, é um arbusto ou pequena árvore que pode atingir até 5 metros de altura

Nancy Ayumi/Gettyimages3 de 3

O lobo-guará se alimenta da lobeira, ajudando na dispersão de suas sementes

Nancy Ayumi/Gettyimages

Por enquanto, os cientistas da USP continuarão as investigações em laboratório. O objetivo é identificar os mecanismos de ação dos compostos e, futuramente, avaliar a eficácia em humanos. A esperança é que a lobeira, além de sustento para o lobo-guará, possa um dia ajudar na luta contra o câncer.

“Embora os resultados sejam muito promissores, é fundamental realizar mais estudos de segurança, especialmente para ajustar a dosagem ideal que seja eficaz contra o câncer e com menos efeitos colaterais”, acrescenta Priscyla.

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