O fim do ano costuma vir acompanhado de músicas festivas, propagandas coloridas e expectativas de celebração. Essa combinação cria a sensação de que todos deveriam encerrar dezembro em clima de euforia, felizes e exibindo conquistas.
No entanto, nem todas as pessoas chegam a essa fase com energia emocional para corresponder ao que consideram um padrão social de felicidade.
Para quem enfrenta dificuldades financeiras, perdas recentes, conflitos familiares ou problemas de saúde, o contraste entre a própria realidade e o discurso de alegria pode provocar um sentimento de inadequação.
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A comparação com vidas aparentemente perfeitas, principalmente nas redes sociais, amplia a ideia de que existe um “jeito certo” de viver o fim do ano, o que muitas vezes afasta a pessoa do que ela mesma está sentindo.
A cobrança para aparentar felicidade cria um distanciamento entre o que a pessoa sente e o que o ambiente espera dela. Por isso, quando esse contraste aumenta, surgem sensações de inadequação e pensamentos autocríticos.
Esse conflito também favorece ruminações — quando a mente fica presa em frases como “não deveria estar assim” ou “todo mundo consegue menos eu”. Para quem já chega ao fim do ano emocionalmente cansado, essa pressão funciona como um gatilho que intensifica a ansiedade e a tristeza.
“Nem todo mundo compartilha o mesmo entusiasmo do fim do ano. Para muitos, o ritmo intenso das festas só evidencia muitos desafios que já estavam presentes”, afirma Rita Calegari, psicóloga do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
Como lidar com a pressão social
No fim do ano, o contato com familiares, amigos e colegas costuma aumentar. Além das festas, também há grupos de mensagens nas redes sociais, expectativas de presença em vários eventos e conversas que nem sempre respeitam o ritmo de cada pessoa. Por isso, para quem já está emocionalmente cansado, esse acúmulo cria uma sensação de saturação.
Nesta fase, estabelecer limites é fundamental. Escolher quais compromissos realmente importam, definir quando responder mensagens e reconhecer o momento de se afastar de temas que geram desgaste ajuda a evitar conflitos e preservar o bem-estar.
O psiquiatra Marcel Fúlvio Padula, coordenador da Psiquiatria do Hospital Albert Sabin (HAS), destaca que existem algumas estratégias clínicas e não clínicas que ajudam a reduzir as emoções negativas no fim do ano.
“Estratégias com boa evidência incluem psicoterapias como TCC e abordagens contextuais, que trabalham reestruturação cognitiva, identificação de gatilhos e exercícios de aceitação. As habilidades de regulação emocional, como técnicas de tolerância ao mal-estar, grounding e práticas de mindfulness, ajudam em momentos intensos”, afirma.
Ainda segundo ele, algumas estratégias como manter horários de sono, evitar excessos, reduzir o uso de telas à noite e fazer pausas durante o dia contribuem para estabilizar as emoções. Organizar a agenda e aceitar que não é possível estar em todos os lugares também reduz a sobrecarga.
Em dezembro, a soma de eventos e cobranças sociais pode gerar esgotamento. Ajustar compromissos e cuidar do descanso ajuda a proteger a saúde mental
Emoções negativas também fazem parte
Tristeza, raiva, saudade e melancolia são emoções legítimas e esperadas em diferentes fases da vida. Entretanto, elas se tornam preocupantes quando deixam de ser pontuais e começam a interferir na capacidade de aproveitar o presente ou cumprir tarefas cotidianas.
Alguns sinais indicam que o sofrimento deixou de ser normal. Entre eles estão tristeza que não passa, irritabilidade frequente e mudanças significativas no sono ou no apetite.
Perda de energia, isolamento e dificuldade de concentração também são comuns. Além disso, é importante atenção ao aumento do consumo de álcool ou outras substâncias e à sensação de desesperança. Se os sintomas permanecem por mais de duas semanas ou aparecem de forma intensa, os especialistas recomendam procurar avaliação profissional.
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