Ócio: estudo mostra que ficar sem fazer nada faz bem ao cérebro

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Em uma sociedade cada vez mais guiada pela lógica da produtividade constante, muitos enxergam momentos de inatividade como inúteis ou prejudiciais. No entanto, pesquisadores do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, mostraram que estar distraído contribui para o aprendizado do cérebro. O estudo foi publicado em junho na revista científica Nature.

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Utilizando registros das atividades neuronais de camundongos, cientistas descobriram que o cérebro continua ativo e aprendendo, mesmo quando não está envolvido em situações que não haja instruções, metas ou recompensas envolvidas.

“Mesmo quando você está distraído, apenas andando por aí ou acha que não está fazendo nada especial ou difícil, seu cérebro provavelmente ainda está trabalhando duro para ajudá-lo a memorizar onde você está, organizando o mundo ao seu redor, para que quando você não estiver mais distraído — quando realmente precisar fazer algo e prestar atenção — você esteja pronto para fazer o seu melhor”, diz um dos autores do artigo, Marius Pachitariu, em comunicado.

Por que momentos de descanso são importantes para o cérebro?

  • Consolidação da memória: durante o descanso, o cérebro processa e armazena informações, fortalecendo memórias e aprendizados.
  • Redução do estresse: pausas auxiliam na diminuição da produção de cortisol (hormônio do estresse).
  • Melhora do foco: interrupções durante atividades mentais intensas recuperam o foco e a concentração.
  • Ajuda na criatividade: ficar sem fazer nada durante um tempo permite que o cérebro crie novas conexões e ideias, auxiliando na criatividade e na resolução de problemas.
  • Protege a saúde mental: além de um sono saudável, o descanso previne a ocorrência da ansiedade, depressão e outros problemas ligados à saúde mental.
  • Auxilia no humor e bem-estar: pausas para o cérebro ajudam a equilibrar o emocional, contribuindo na melhora do humor e a sensação de bem-estar.

Tecnologia envolvida no estudo

Durante o estudo, os pesquisadores criaram um ambiente de realidade virtual onde os camundongos percorriam corredores com texturas visuais variadas. Algumas estavam associadas a recompensas, e outras não. Após alterações sutis no ambiente, eles observaram mudanças duradouras na atividade neural.

Ao comparar os dois grupos de roedores, a equipe de pesquisa identificou que os que exploraram livremente o ambiente aprenderam muito mais rápido a associar texturas a recompensas quando uma tarefa foi inserida, do que aqueles que foram treinados para realizar diretamente as tarefas.

“Isso significa que você nem sempre precisa de um professor para te ensinar: você ainda pode aprender sobre o seu ambiente inconscientemente, e esse tipo de aprendizado pode te preparar para o futuro. Fiquei muito surpreso. Tenho feito experimentos comportamentais desde o meu doutorado e nunca imaginei que, sem treinar camundongos para realizar uma tarefa, você encontraria a mesma neuroplasticidade”, revela o autor principal da pesquisa, Lin Zhong.

Momentos de descanso ajudam o cérebro a racicionar melhor

Como as mudanças nas conexões neurais foram observadas sem necessidade de instrução direta, os cientistas perceberam que o cérebro se prepara para aprender mesmo em situações de ócio ativo.

Além disso, os pesquisadores descobriram que o córtex visual – região do cérebro responsável pelo processamento da informação visual – possui áreas especializadas para diferentes tipos de aprendizado. Algumas delas estão envolvidas no aprendizado não supervisionado, enquanto outras se ativam apenas quando há tarefas orientadas. O mais impressionante é que o cérebro pode ligar ambos os modos ao mesmo tempo.

A nova descoberta ajuda a ampliar a compreensão de que forma acontece o processo de aprendizagem no cérebro. “É uma porta de entrada para estudar esses algoritmos de aprendizado não supervisionados no cérebro, e se essa é a principal maneira pela qual o cérebro aprende, em oposição a uma maneira mais instruída e direcionada a objetivos. Precisamos estudar essa parte também”, finaliza Pachitariu.

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