A pandemia da Covid-19 causou prejuízos à saúde que vão além dos sintomas respiratórios. Um novo estudo mostra que mesmo os cérebros de pessoas saudáveis, que não foram infectadas pelo coronavírus, envelheceram mais rápido do que o esperado durante o período pandêmico.
A pesquisa foi publicada nessa terça-feira (22/7), na revista científica Nature Communications. Cerca de mil pessoas passaram por exames de imagem cerebral e testes cognitivos para que os pesquisadores do Reino Unido pudessem entender melhor os efeitos da pandemia.
Eles descobriram que os cérebros das pessoas que passaram pela pandemia, independentemente de terem sido diagnosticadas com Covid ou não, envelheceram em média 5,5 meses mais rápido do que o esperado.
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Como foi feito o estudo
Pesquisas anteriores já mostraram que a infecção pelo vírus Sars-CoV-2 pode acelerar a neurodegeneração e o declínio cognitivo em idosos. No entanto, poucos estudos exploraram se o período da pandemia também teve efeito no envelhecimento cerebral.
Em busca de respostas, os cientistas utilizaram informações do UK Biobank, um grande banco de dados britânico de acompanhamento de saúde. Foram analisadas imagens cerebrais de 15.334 adultos com idade média de 63 anos.
Em seguida, modelos de inteligência artificial foram treinados para prever a idade cerebral baseados em várias características do órgão, permitindo comparar a idade real com a estimada.
Os homens estão entre os grupos mais afetados pelo envelhecimento cerebral
A partir daí, a equipe de pesquisa aplicou os modelos de idade cerebral para um grupo separado de 996 participantes saudáveis, que haviam feito duas tomografias cerebrais com pelo menos dois anos de intervalo. Para comparar os resultados, os voluntários foram divididos em dois grupos:
- Pessoas que fizeram duas tomografias antes da pandemia (grupo de controle);
- Pessoas que fizeram uma tomografia antes e outra durante a pandemia.
Os modelos de inteligência artificial detectaram o envelhecimento cerebral mais rápido nas pessoas que não estavam no grupo de controle. Os pesquisadores acreditam que o isolamento social, o estresse e as mudanças de rotina da pandemia podem ter sido responsáveis por deixar o cérebro com características mais velhas.
Idosos e homens foram os mais afetados
O envelhecimento cerebral foi mais evidente entre idosos e homens, grupos naturalmente mais suscetíveis a alterações neurológicas quando estão estressados, em comparação com as mulheres.
Também foi identificado envelhecimento em pessoas com baixa renda ou desemprego, indicando que fatores sociais e econômicos podem ter sido determinantes para agravar esse processo.
Por outro lado, quando os voluntários passaram por testes cognitivos, foi observado que a agilidade mental diminuiu apenas em participantes que foram infectados pelo coronavírus. Para os pesquisadores, o resultado sugere que o envelhecimento cerebral mais rápido não se traduz necessariamente em comprometimento do pensamento e da memória.
“A saúde cerebral é moldada não apenas pela doença, mas também pelo nosso ambiente cotidiano”, diz o coautor do estudo, Ali-Reza Mohammadinejad, pesquisador da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
Embora as novas descobertas sejam contundentes, a equipe de pesquisa ressalta que mais estudos sobre o tema devem ser feitos para investigar a relação causal, além de descobrir se os efeitos do fenômeno são duradouros ou não.
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