O consumo diário de queijos com alto teor de gordura pode estar associado ao menor risco de desenvolver demência ao longo da vida. A conclusão é de um estudo de longo prazo publicado na revista Neurology nessa quarta-feira (17/12), que acompanhou cerca de 28 mil adultos na Suécia por aproximadamente 25 anos.
Segundo os pesquisadores, pessoas que consumiam ao menos 50 gramas por dia de queijos com mais de 20% de gordura apresentaram menor incidência de demência em comparação com aquelas que ingeriam quantidades muito menores. Entre os alimentos incluídos na análise estavam queijos como brie, gouda, cheddar, parmesão, gruyère e muçarela.
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“Durante décadas, o debate sobre dietas ricas em gordura versus dietas com baixo teor de gordura moldou as recomendações de saúde, chegando mesmo a classificar o queijo como um alimento não saudável que deve ser consumido com moderação. Nosso estudo descobriu que alguns laticínios com alto teor de gordura podem, na verdade, diminuir o risco de demência, desafiando algumas suposições antigas sobre gordura e saúde cerebral”, diz a epidemiologista nutricional Emily Sonestedt, da Universidade de Lund, na Suécia, em comunicado.
O que é demência?
- Demência é um termo geral para um conjunto de sinais e sintomas, incluindo esquecimentos frequentes, repetição de perguntas, perda de compromissos ou dificuldade em lembrar nomes.
- Atualmente, o SUS oferece diagnóstico e tratamento multidisciplinar para pessoas com demência, incluindo Alzheimer, em centros de referência e unidades básicas de saúde.
- Um diagnóstico precoce permite ações terapêuticas que podem retardar sintomas, aliviar a carga familiar e melhorar a qualidade de vida.
- Dados do Ministério da Saúde mostram que até 45% dos casos de demência podem ser prevenidos ou retardados.
O que os dados mostram
A análise teve como base a coorte Malmö Diet and Cancer, um estudo observacional que acompanha hábitos alimentares e desfechos de saúde da população sueca. No início da pesquisa, os participantes registraram sua alimentação em um diário alimentar de sete dias, responderam a questionários de frequência alimentar e participaram de entrevistas detalhadas sobre preparo dos alimentos e rotina alimentar.
Ao longo de aproximadamente 25 anos de acompanhamento, 3.208 participantes desenvolveram algum tipo de demência. Quando os pesquisadores compararam os grupos, observaram que cerca de 10% das pessoas que consumiam 50 gramas ou mais de queijo gorduroso por dia receberam o diagnóstico, frente a aproximadamente 13% entre aquelas que ingeriam menos de 15 gramas diariamente.
Após ajustes para fatores como idade, sexo, escolaridade e qualidade geral da dieta, o consumo mais elevado de queijo com alto teor de gordura esteve associado a uma redução de 13% no risco de demência por todas as causas.
Nem todo laticínio tem o mesmo efeito
Ao analisar outros produtos lácteos, os pesquisadores não encontraram o mesmo padrão observado com os queijos mais gordurosos. Queijos e cremes de leite com baixo teor de gordura não estiveram associados à redução do risco de demência, assim como o consumo de leite, seja integral ou desnatado. Produtos fermentados, como iogurte e kefir, também não mostraram efeito relevante.
A manteiga foi o único alimento a apresentar um resultado diferente, mas sem uma conclusão clara. Em alguns casos, o consumo elevado esteve ligado a um risco maior de doença de Alzheimer, indicando que nem todo alimento rico em gordura atua da mesma forma no cérebro.
Os autores do estudo reforçam que, embora exista uma associação estatística entre o consumo de queijo com alto teor de gordura e menor risco de demência, o estudo não prova que o alimento tenha um efeito protetor direto.
Por se tratar de uma pesquisa observacional, os resultados mostram uma relação, mas não permitem afirmar que o consumo de queijo seja a causa da redução do risco.